quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Dia da Escada

Dia da escada. Não que seja realmente o dia da escada, ou que algum desocupado o tenha decretado, mas de fato acredito que hoje seja mesmo o dia da escada. Com degraus que sobem, com decisões que descem... esteja a cabocla no aguardo, de soga nas mãos, ou olhos meticulosos e pés no chão.



Tez de opala

Então, resolvi subir a escada. Outrora, vinha de ti a dedicação para ver-me elogiando teus desencaixes com meus desencantos. Nesta hora, já não mostra-se de outra forma tal indelicadeza provida de minhas angustias.

Fui a cada degrau inclinando-me para o mundo que deixara pra trás, em baixo nível de geografia, de solidez, de momentos...

E, percebia a cada minuto que abdicava todas as emoções tardias das rabugentas noites que antes a amava com carinho, com profundos fogos e guarda-chuvas...
Guarda-chuvas negros e impermeáveis como tuas futuras atitudes, as quais eu pudera imaginar um dia, e sofrer sorrindo.

As escadas que me levam a ti, mostram uma superfície obscura, uma riqueza de umidade que, num desalento, lembro das promessas que um dia a fiz, e que sabemos ambos que nunca serão cumpridas.

Subo mais um degrau, e percebo que nenhuma perfuratriz entenderia que tais degraus fossem tão úteis, e tão desincumbidas. Úteis para teus desejos, porém sumario com estes degraus passados que toda a minha vida poderia estar provida e cultivada por aqueles que ainda estão por vir.

E lá em cima estás tu... inquieta ao esperar o término desta peregrinação, embora suponha mostrar-se fixa nos antepenúltimos. E eu, em meu manar lento e desencorajoso pelos seus pés, à visão que o ângulo me presenteia.

Olho para os degraus que para trás ficaram, e entendo que não faz sentido vê-la a passear ao sol, e o perfume que exala a todos, e em seu tijupá recolher-se do orvalho que a ofereceria, meio sem modos de fazê-la deitar pingos de harmonia, inteiramente feliz, intensamente vulgar, fechada aos olhos do mundo e aberta aos meus desejos e meus poetas.

Entendo que não sentes o calor dos raios de minha vida, não recolher as tristezas enrustidas de minha poesia; entendo que para trás meu destino me guia, e que as lembranças valem mais que teus olhares.

No meio da escadaria, tropeçando nos meus últimos degraus, a deixo em paz fingir acreditar que tua vida foste o combustível da minha, que nossos sonhos pudessem tomar vida, que nossa ignorância pudesse enganar o mundo.